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1º Encontro - 12/05/2018

Atualidade da caça às bruxas e violência de Estado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No primeiro encontro das oficinas, abordamos os capítulos 1 (O mundo precisa de uma sacudida) e 4 (A grande caça às bruxas na Europa) do livro Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva, de Silvia Federici. Nosso objetivo principal foi o de analisar as diferentes construções da figura da bruxa, tendo como base uma pesquisa histórica sobre o fenômeno da caça às bruxas na Europa e na América, na transição do feudalismo para o capitalismo.

 

A partir dos discursos que motivaram a perseguição das mulheres naquele período histórico, tentamos identificar como o exercício de múltiplas formas de violência contra as mulheres permanece ainda hoje em nossos territórios. Para isso foi realizada uma dinâmica com imagens que, em sua maioria, fazem parte da iconografia do livro, para que cada participante apontasse que símbolos, estereótipos e ideais sobre as mulheres eram criados por meio daquelas representações.

 

 

A ligação entre caça às bruxas, capitalismo e violência de Estado será melhor explorada no decorrer dos próximos encontros. No entanto, já na primeira oficina observamos que tal ligação tem como elo a utilização de várias estratégias legais pelas classes dominantes. Como exemplos podem ser citadas: a expropriação de terras e da herança das femme sole¹; a propriedade sobre ervas naturais controladas por meio de licenças, excluindo parteiras e curandeiras da ciência moderna e da especialização do trabalho; a criminalização da sexualidade não procriativa tendo em vista a reprodução da força de trabalho; o feminicídio como política de Estado, com base na institucionalização do crime de bruxaria. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os paralelos traçados na atualidade, com todas as ressalvas quanto à transposição de conceitos, são possíveis ao observarmos quem são hoje os sujeitos vítimas do capital. Abordamos casos recentes como o ocorrido em Gana, em 2017, que demonstra a intensificação de feminicídios nas regiões onde há maior disputas por terras. Ainda quando o discurso da caça às bruxas não está presente em sua literalidade, a criação de uma "suspeita", que constitui ameaça à ordem, tem sido transposta em outras chaves, como na chamada guerra às drogas; no genocídio nas periferias, que afeta sobretudo a população negra, como foram os Crimes de Maio de 2006; no extermínio de indígenas na construção de grandes obras, como Belo Monte; no aumento do feminicídio na América Latina, em cidades como Ciudad Juarez, no México; entre outros exemplos que podem ser incluídos nesta lista.

O curta mencionado no encontro, Apelo, realizado por Clara Ianni e Débora Maria da Silva (Movimento das Mães de Maio), trata justamente da institucionalização da violência no Brasil. Filmado no Cemitério Dom Bosco², em Perus, na periferia de São Paulo, liga atos de violência do presente com os do passado. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Abaixo, segue bibliografia complementar utilizada na parte expositiva. Em breve, subiremos as imagens utilizadas na parte prática. 

 

BARSTOWN, Anne Llewellyn. Chacina de feiticeiras: uma revisão histórica da caça às bruxas na Europa, tradução Ismênia Tupy. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995. 

EHRENREICH, Barbara; ENGLISH, Deidre. Bruxas, parteiras e enfermeiras: uma história das curandeiras, tradução Bruxaria Distro.

HARRIS, Marvin. Vacas, porcos, guerras e bruxas: os enigmas da cultura, tradução de Irma Fioravanti. São Paulo: Civilização Brasileira, 1978.

Apresentações

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¹ Femme sole é um termo utilizado na common law anglo-americana para designar uma mulher que nunca foi casada, divorciada ou viúva ou uma mulher cuja subordinação legal ao marido foi invalidada – por um fideicomisso, um acordo pré-nupcial ou decisão judicial – e que possuía suas próprias propriedades.

² O cemitério, atualmente renomeado Colina dos Mártires, foi criado em 1971 pela ditadura civil-militar (1964-1985) para esconder os cadáveres das vítimas do regime repressivo, os desaparecidos foram enterrados em valas comuns. Nos anos 1990, as covas foram abertas e os restos mortais de mais de 1.000 corpos foram exumados. No local, foi criado um Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos e um Memorial, com vários graffitis nos muros ao redor do cemitério, como uma linha do tempo, contando a história do bairro e dos movimentos no contexto da luta contra a ditadura.

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